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A teoria das abstrações

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    Murphy Stay
  • 30 de mai.
  • 12 min de leitura

Atualizado: 2 de jun.

Por Vânia Noeli Ferreira de Assunção*


'Rain, Steam and Speed - The Great Western Railway' é uma pintura a óleo sobre tela do mestre inglês J. M. William Turner realizada em 1844 e que está na National Gallery de Londres -  (London National Gallery/Reprodução)
'Rain, Steam and Speed - The Great Western Railway' é uma pintura a óleo sobre tela do mestre inglês J. M. William Turner realizada em 1844 e que está na National Gallery de Londres -  (London National Gallery/Reprodução)

Este excerto faz parte de um texto maior e mais completo da Professora Vânia Noeli. Versa sobre um tema de fundamental importância para a teorização marxista, na medida em que trata das fronteiras entre a forma de abordagem de Marx, que se diferencia das chamadas ciências naturais justamente pelo objeto de estudo também ser diferenciado. Além disso, oferece pressupostos críticos aos adversários políticos e intelectuais de Marx, do marxismo e dos movimentos sociais, que, além de buscarem viabilizar formas práticas de disputa hegemônica, também devem pautar tal disputa em uma análise criteriosa dos aspectos sociais do modo de produção burguês e seus desdobramentos. Disponibilizamos o link do texto completo ao final desta publicação.

Indicamos também este excelente vídeo do Canal Aurora Humanista, baseado justamente nesses escritos. Como suporte adicional do entendimento desse debate tão caro aos marxistas.

Boa leitura!

Equipe Editorial Revista Barravento. III – A teoria das abstrações No “Prefácio” à primeira edição de O capital o filósofo alemão diferencia cabalmente a forma de captura da realidade social daquela própria dos estudos da natureza. Para o autor, nas análises das estruturas societárias, “não podem servir nem o microscópio nem reagentes químicos. A faculdade de abstrair deve substituir ambos” (Marx, 1988, p. 18). Em outros termos, no tocante ao estudo do ser social, experimentos semelhantes aos das ciências naturais são ontologicamente impossíveis, dada a especificidade do campo societário, cabendo à capacidade humana de abstração a possibilidade de apreensão do objeto. O Mouro ressalta que o caminho que vai do abstrato ao concreto, mentalmente apresentado, é “o modo do pensamento de apropriar-se do concreto, de reproduzi-lo como um concreto mental” (Marx, 2011, p. 54). Ou seja, afastadas as possibilidades experimentais e controláveis que estão dadas às ciências da natureza, a forma científica (e, portanto, distinta da artística, religiosa etc.) de apropriar-se da especificidade do ser social é reproduzi-la como concreto pensado: “O todo como um todo de pensamentos (...) é um produto da cabeça pensante que se apropria do mundo do único modo que lhe é possível” (Marx, 2011, p. 55). O concreto pensado reproduz a conexão entre efetividade e cientificidade, entre existir e pensar, em que o primeiro, dado independentemente das atividades do intelecto, pode ser apreendido e reproduzido pelo pensamento – no caso do ser social, a única forma de estatuir a cientificidade.

 

Expondo seu “método” – ou, se tomado este termo na sua acepção moderna, seu antimétodo (Alves, 2012) – de pesquisa, o filósofo vaticina: a realidade preexiste à pesquisa, o objeto precede o conhecimento e deve, portanto, estar constantemente em consideração na sua representação ideal, ou seja, cientificamente deve-se partir do imediatamente dado. Observe-se, porém, que não se trata de um fenomenologismo nem de um empirismo. Esclarece: “Parece ser correto começarmos pelo real e pelo concreto, pelo pressuposto efetivo (...). Considerado de maneira mais rigorosa, entretanto, isso se mostra falso” (Marx, 2011, p. 54). Marx argumenta que, partindo- se do todo imediato, aparente apenas em seus complexos parciais, desemboca-se numa “representação caótica do todo”: a totalidade e cada parte abordada são simples abstrações, se desconsiderados seus elementos constituintes.


Para Marx, portanto, o recurso metodológico adequado para o estudo do ser social é a força de abstração – uma competência intelectiva para extrair os momentos mais centrais das relações, coisas e seres estudados no âmbito social e, assim, apropriar-se deles em sua plenitude e complexidade. A força de abstração é o “órgão peculiar da individualidade” no que pertine à apropriação ideal dos objetos sociais, a “capacidade mental de escavar e garimpar as coisas”, por meio da qual o sujeito que “opera cognitivamente” consegue captar o movimento real (Chasin, 2009, p. 122). Ou, ainda:

 

é uma qualidade individual ou força essencial de apropriação peculiar dos objetos, que se realiza de modo específico de acordo com a sua própria natureza e em consonância com a natureza do objeto apropriado. Enquanto força performática, sua apropriação é ideal, reprodução intelectual de entidades reais, o que se confirma pelo caráter ontológico das abstrações produzidas (Chasin, 2009, p. 123).

 

Desta forma, a pesquisa não é idêntica ao coletar e agrupar caracteres empiristas e/ou à sua descrição por um silogismo lógico superficial, mas um processo de garimpagem de elementos da coisa estudada pelo intelecto humano, um processo de abstração. Como as categorias ontológicas não querem figurar universais a priori ou conceitos autônomos com relação ao concreto, mas expressar as próprias coisas efetivas e complexas, devem ser regidas pelo complexo fenomênico em tela. A cientificidade se põe, assim, não como um processo prévio, separado da efetividade, mas só pode ser definida com base na processualidade que pretende apreender.

 

De forma que as abstrações ontológicas (Chasin, 2009) são determinações ou categorias simples que não são geradas por pontos de vista epistemológicos, mas derivam da própria coisa. Marx especifica categorias simples ou relações gerais, ainda que expressem “frequentemente aspectos isolados”, como “formas de ser, determinações de existência” (Marx, 2011, p. 59), que estão dadas na realidade efetiva – e, pelo esforço intelectivo, reproduzidas no entendimento. Elas devem registrar adequadamente traços comuns a todos ou a muitos dos objetos que investiga, evitando a repetição cansativa e pouco producente de informações idênticas e permitindo também o destaque das diferenças essenciais, por comparação. Segundo Chasin, a abstração retém “aspectos reais, comuns às formas temporais de entificação dos complexos fenomênicos considerados”, comparando entes concretos, num processo de síntese – e só por isso as abstrações resultantes são razoáveis: “A razoabilidade está no registro ou constatação adequado, ‘através da comparação’, do que pertence a todos ou a muitos sob diversos modos de existência. (...) seu mérito é operar subsumida à comparação dos objetos que investiga” (Chasin, 2009, pp. 124-5).

 

Essas abstrações vazias constituem-se no ponto de partida da elaboração teórica, a qual, “por meio de uma determinação mais precisa, chegaria analiticamente a conceitos cada vez mais simples; do concreto representado [chegaria] a conceitos abstratos [Abstrakta] cada vez mais finos, até que tivesse chegado às determinações mais simples” (MARX, 2011, p. 54). As abstrações razoáveis destacam e fixam característicos compartilhados, mas nenhum destes traços comuns é substância pura, e sim um todo complexo integrado por múltiplas formas e modos de ser, que nele atuam como “partes moventes e movidas” (Lukács, 2010, p. 289), como “unidade do diverso”. Sendo o universal comum multiplamente articulado, “síntese de múltiplas determinações”, a função primária das abstrações razoáveis é evidenciar a diferença específica, já que ignorá-la é distanciar-se dos objetos reais (com o que se criam abstrações irrazoáveis, generalizadamente vazias). Afinal, já dissera Marx, “uma explicação que não dá a differentia specifica não é uma explicação”, mas dá “apenas a aparência de um conhecimento real, pois esses sujeitos reais permanecem incompreendidos, visto que não são determinações apreendidas em sua essência” (Marx, 2005, p. 34). Em poucas palavras, a perda da “diferença essencial mutila a reprodução ideal do ser-precisamente-assim, indeterminando o objeto pelo cancelamento de sua processualidade formativa e especificação histórica” (Chasin, 2009, p. 125).

 

No processo de pesquisa, a síntese categorial, que é objetiva, imanente à concretude, deve também passar a existir enquanto “concreto pensado”(6). Em outros termos, a “concretude sintética, o existente, em Marx, nesse contexto, se diz de dois modos: primeiro como este ente ou processo efetivo por-si; depois, como totalidade de pensamentos” (Alves, 2012, p. 161). As abstrações são, portanto, o ponto de partida do método científico exato, e isto não por um critério epistemológico qualquer, mas por imposição da própria natureza da coisa que se pesquisa. As abstrações delimitadas, depuradas são um meio, não o fim do conhecimento, logo, têm o caráter de uma etapa analítica apenas provisória. Esta é justamente a sua função secundária: são o ponto de partida da elaboração teórica, não seu resultado último. Tal somente se alcança medindo comparativamente aquelas abstrações com a realidade que elas pretendem reproduzir mentalmente em sua totalidade multifacetada. Depuradas as abstrações em sua razoabilidade, trata-se agora da caminhada de volta, dando de novo com o real – não mais como “a representação caótica de um todo, mas como uma rica totalidade de muitas determinações e relações” (Marx, 2011, p. 54). Conforme sintetizou Ronaldo Vielmi Fortes, 


O processo de formação ideal das categorias consiste na apreensão dos traços gerais de elementos concretamente existentes. Abstrai-se aqui o complexo de interações da categoria – tais como suas determinações e peculiaridades históricas, sociais, de circunstância etc. – focalizando a atenção nos atributos mais gerais de tal elemento. (...) Este caminho leva do concreto imediato até a síntese abstrata e ainda “rarefeita” de elementos da totalidade. O caminho de volta implica, por sua vez, a decomposição rigorosa e minuciosa das características da categoria e do complexo parcial no interior da totalidade, em outras palavras a especificação das categorias, de suas interações, no interior do complexo. (Fortes, 2011, p. 125)

 

Essa “viagem de retorno” é necessária porque a verdade está na efetividade, na concretude, no sensível. Deste modo, a verdade não é determinável por algum critério da faculdade de julgar ou de abstrair, mas sim pela própria existência: o efetivamente existente é o metro pelo qual se mede a correção ou não de um pensamento, parâmetro que não pode ser substituído pela mera aplicação de qualquer construto metodológico prévio e independente com relação à sua própria malha interna e às interdeterminações recíprocas da coisa pesquisada. Tampouco ficam a meio caminho, como a economia política, que toma a abstração como o resultado da pesquisa. Nos termos chasinianos, “o ser é chamado a parametrar o conhecer”, de forma que, segundo o “rigor ontológico, a consciência ativa procura exercer os atos cognitivos na deliberada subsunção, criticamente modulada, aos complexos efetivos, às coisas reais e ideais da mundaneidade” (Chasin, 2009, p. 58). Aí ocorre uma metamorfose: as abstrações razoáveis, mantendo a condição de pensamentos, convertem-se em momentos concretos de apreensão e reprodução dos graus históricos efetivos. Parte-se do empírico para se alcançar o concreto pensado, passando pela abstração de determinados momentos isolados, donde se retorna à própria concretude, a qual lhes dá sua última configuração. Exposto, em suas determinações mais gerais, nas abstrações razoáveis, o concreto não é apenas fundamento da pesquisa, mas permanece presente em todo o processo, enquanto parâmetro último. Por outras palavras,

 

A remissão categorial ao concreto realmente existente tem, pois uma dupla vigência teórica. Por um lado, na aferição da razoabilidade dos conceitos, na avaliação da relação destes, como pontos em comum ao diverso. Por outro lado, e principalmente, na etapa de concreção das abstrações, onde estas perdem sua vacuidade e são preenchidas pelo conteúdo determinativo real e particular. (Alves, 2012, p. 387)

 

Para que as categorias percam seu caráter genérico e simples e ganhem concretude e se saliente a diferença específica deve haver uma intensificação ontológica, a “atualização das virtualidades de sua natureza ontológica enquanto forma de apropriação ideal dos objetos reais” (Chasin, 2009, p. 129). Esta intensificação se opera por meio da aproximação e comparação destas potencialidades aos traços efetivos, para serem medidas por estes e, então, ajustadas, procedendo-se à especificação, à delimitação e à articulação categoriais.

 

Dentre os momentos necessários para que ocorra a elevação das “abstrações razoáveis” a reprodução de momentos concretos, Chasin destaca o do “deperecimento da abstratividade”, a especificação: “na rota que vai do simples ao complexo, do abstrato ao concreto, as abstrações razoáveis devem perder generalidade por especificação, adquirindo os perfis da particularidade e da singularização, ou seja, a fisionomia de abstrações razoáveis delimitadas” (CHASIN, 2009, pp. 129-30). A especificação é um momento analítico do qual resulta uma determinação histórica e social que pode restringir o conteúdo e a vigência de determinadas categorias. De acordo com Lukács,


Especificação significa aqui em termos ontológicos: examinar que êxitos determinadas leis, sua concreção, sua transformação, seu fazer-se tendência, seu concreto operar em determinadas circunstâncias concretas possuem para determinados complexos concretos. (Lukács apud Fortes, 2011, p. 117)

 

A especificação das particularidades é necessária porque os aspectos, leis e diretrizes gerais não dão conta da compleição concreta das coisas em sua complexidade. Quando dissolvidas as categorias, estas agora são apreendidas em suas forma mais profunda, concreta, em articulação com as formas de aparição. Assim,

 

o momento da especificação subentende a representação das formas concretas de realização dos complexos, momento em que se dissipam as representações genérico-abstratas da legalidade tendencial e tem lugar a diversidade histórica de suas efetivações. (...) O tracejamento geral das tendências históricas fornece apenas a dimensão geral das determinantes atuantes na realidade; a demarcação dos desvios históricos reais destas leis tendenciais é a determinação precisa e necessária do procedimento investigativo (Fortes, 2011, p. 117).

 

Se toda coisa é uma pletora complexa de determinações e inter-relações, nem por isso todas são equivalentes e têm idêntico peso, fazendo-se necessário demonstrar as determinações delimitadoras recíprocas que regem a proposição de cada qual no todo da coisa pesquisada. Para dar conta do rico gradiente de caracteres dos objetos estudados, é preciso trazer a lume sua concatenação, sua específica articulação entre si e com o todo. Em Marx, ao contrário do que ocorria na economia política e na especulação, a articulação categorial não advém de uma atribuição formalista ou lógica, mas do retratamento da conexão íntima do próprio objeto em estudo. O próprio complexo estudado que diz da situação e da importância dos nexos entre as categorias, não selecionadas por critérios exteriores, de forma a alcançar sua integração e suas relações mútuas. Em outros termos, as abstrações razoáveis e delimitadas são articuladas segundo a lógica imanente que legisla o feixe de determinações examinado. Trata-se, conforme Chasin, do “estágio mais desenvolvido do próprio método, que integra e proporciona a plena realização de seus momentos anteriores” (Chasin, 2009, p. 131).

 

Como apontou Lukács, os tipos de interações entre as infinitas determinações contidas em toda objetividade exprime esta infinitude de possibilidades (LUKÁCS, 2010). Nesta direção, remetendo-se novamente à diferença entre método de pesquisa e modo de exposição, Chasin destaca que a ordem em que aparecem e as posições ocupadas pelas categorias nos trabalhos marxianos não é aquela pela qual o pesquisador delas tomou conhecimento, mas reproduz teoricamente a coisa estudada. Assim, em Marx, a sequência em que aparecem e o lugar que ocupam as categorias remetem sempre a

 

suas incorporações pertinentes ao concreto de pensamentos, ou seja, da integração de cada uma delas, pela via das múltiplas e sucessivas intensificações, delimitações e articulações das abstrações, ao processo de reprodução mental do objeto real, de modo a recompor, ao nível da concreção realizada, na ordem própria ao concreto pensado, por conseguinte de seu discurso, o ordenamento intrínseco ao objeto em reprodução, de tal forma que a sequencialidade das categorias, no concreto pensado, seja a reprodução de sua simultaneidade real no objeto (Chasin, 2009, pp. 244-5).

 

A investigação não termina, entretanto, ao perspectivar as interações categoriais, com o que se correria o risco do unicausalismo ou da indeterminação. As determinações são momentos essenciais constitutivos do próprio ser societário e, portanto, a “relação entre categorias não é da mesma ordem, relevância e grau, uma vez que a participação de determinadas categorias no interior do complexo pode dar-se sob a forma da primazia ou da anterioridade necessária em relação a outros elementos” (FORTES, 2011, pp. 131-2). Em outros termos, a análise das inter-relações categoriais deve considerar o fato de que não estão contempladas ali apenas relações paritárias, mas também a sobreordenação e a subordinação das categorias, as quais, destituídas de homogeneidade, formam um conjunto de determinações diferentes e divergentes. Assim, a pesquisa deve compreender o grau e a relevância das categorias em interconexão, identificando claramente aquela que desempenha o papel de momento preponderante. Saliente-se que a predominância não é simples interação, mas diz respeito à posição central que tem a categoria na articulação dos nexos, já que se trata do “elo tônico”, daquela abstração razoável que sobredetermina as demais, tornando-se a categoria estruturante do todo concreto – e, portanto, também da totalidade ideal. É nesse momento que se manifesta a delimitação ou diferenciação por intensificação ontológica, na medida em que esta categoria que tem acentuação ordenadora específica fornece a construtura de todo o processo de síntese.

 

Ainda no interior do processo de articulação, há também que demonstrar como se inter-relacionam em sua concretude as determinações reflexivas: as categorias que estão conectadas umbilicalmente em pares ou conjuntos, de tal forma que a compreensão de cada uma é forçosa à apreensão de todas, cuidando-se para não perder a especificidade de cada qual. Na arguta síntese de Antônio Alves, para fechar, a teoria das abstrações

 

É teoria da coisa sob o mando da própria coisa, a qual é analisada, dissecada, separada, decomposta em seus aspectos múltiplos, diversos e, até mesmo, opostos. Tipo de procedimento teórico o qual a toma como aquela mesma “se dá” na realidade social, para, através do conjunto de atos da analítica que, miudamente, decompõe o existente em seus elementos. Os quais passam à forma de abstrações, para numa posterior etapa de reconstru- ção, apresentá-la como um todo de determinações que a delimitam como ente, ou processualidade, específica, na forma de um todo pensado. Conjunto de operações que distinguem as partes constitutivas de uma coisa umas das outras, e, na sequência, identifica o nível de determinações preciso em que cada uma delas se encontra na particularidade da existência atual (Alves, 2012, pp. 92-3).

 

Da analítica das coisas, possibilitada pela inexistência preliminar de método e consubstanciada na teoria das abstrações, conclui-se que o método marxiano é a exposição crítica do próprio real. Não há nele uma prescrição, do que resulta que os métodos não têm valor de conhecimento baseado em si mesmos, muito menos podem servir de modelo ou guia de pesquisa. Antes, ao contrário, cumprida sua função, deixam de ser referência, não têm serventia como suposta metodologia universal que oriente outras jornadas, mas apenas registram um roteiro de percurso: “De modo que o conhecimento é possível, a ciência pode alcançar seus objetivos, mas não há um caminho preconfigurado, uma chave de ouro ou uma determinada metodologia de acesso ao verdadeiro” (Chasin, 2009, p. 231).


***

 

(6) “A ascensão do abstrato ao concreto não é uma passagem de um plano (sensível) para outro plano (racional); é um movimento no pensamento e do pensamento. Para que o pensamento possa progredir do abstrato ao concreto, tem de mover-se no seu próprio elemento, isto é, no plano abstrato, que é a negação da imediaticidade, da evidência e da concreticidade sensível. (...) O progresso da abstratividade à concreticidade é, por conseguinte, em geral, o movimento da parte para o todo e do todo para a parte; do fenômeno para a essência e da essência para o fenômeno; da totalidade para a contradição e da contradição para a totalidade; do objeto para o sujeito e do sujeito para o objeto.” (Kosík, 1995, pp. 36-7) *Professora da Universidade Federal Fluminense – Rio das Ostras. E-mail: vanianoeli@uol.com.br. Link do texto completo.

 

 
 
 

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