top of page

É A LUTA DE CLASSES, ESTÚPIDO!

  • Foto do escritor: Murphy Stay
    Murphy Stay
  • 14 de nov. de 2024
  • 18 min de leitura

Atualizado: 16 de nov. de 2024

por Frederico Lambertucci 

 

O principal argumento dos "economistas" de plantão é que o fim da escala tornaria os salários impagáveis para os capitalistas, que teriam que contratar mais e isso destruiria a "economia", como se pode ver nas matérias veiculadas por Folha de São Paulo, O Globo, Estadão e demais jornais da burguesia.  


Junto a isto, aparecem os patetas de plantão, tal qual Nikolas Ferreira, o deputado Maurício Marcon (Podemos-RS) e o deputado Leonardo Siqueira (Partido Novo), economista formado pela Fundação Getúlio Vargas e atualmente doutorando pelo INSPER, sabem as “figuras notáveis” dessa “renomada” instituição liberal burguesa? Paulo Kogos e Jair Pinheiro, o primeiro um cavaleiro templário e o segundo a favor da comercialização de órgãos. A quem o “economista” em questão serve não pode causar dúvidas para ninguém.


Elenquemos os argumentos.


O Deputado Nikolas Ferreira simplesmente fez uma correlação completamente torta entre produtividade do trabalho e Estado inchado, e disse que a inflação irá aumentar. O Deputado Maurício Marcon, um pateta no nível de Nikolas Ferreira, disse que propôs um projeto alternativo, em que se poderia trabalhar a quantidade de dias que “patrão” e “empregado” acordassem, desde que respeitada os limites das horas (qual a quantidade de horas que consta no projeto não se atreveu a falar). Além disso, o deputado insistiu, de forma patética, que o trabalhador poderia negociar com o patrão em fazer a carga horária dele de trabalho em 4 dias, 3 dias se quisesse. E por fim, o deputado economista Leonardo Siqueira simplesmente elencou como um resultado natural do aumento da massa salarial, a inflação, a substituição de trabalho formal por informal e a troca de trabalhadores por máquinas.

 

Tratemos então desses temas. A primeira questão, a inflação.


O que eleva a inflação é a existência de uma massa de valor na forma dinheiro maior do que demanda, do que consumo.


Se você aumenta salários, ou aumenta a contratação o que consequentemente aumenta a massa de salários, supondo a jornada 4x3 do projeto, você aumenta a capacidade de consumo da sociedade o que aumenta a demanda e consequentemente produz o resultado contrário, a tendência é a redução da inflação e aumento da produção, como era óbvio até para um Keynes. Existe uma possibilidade de “inflação”, mas trataremos dela depois de outras considerações necessárias. Sobre essa questão, Marx já tinha clareza sobre a confusão que a economia burguesa realiza ao discutir o funcionamento do mercado. Diz ele que

 

A essa confusão – determinação dos preços por oferta e demanda e, ao mesmo tempo, determinação da oferta e demanda pelos preços – devemos acrescentar que a demanda determina a oferta e esta, por sua vez, a demanda, ou, o que dá no mesmo, que a produção determina o mercado, e este, a produção.” (MARX, 2017, p. 266)

 

Portanto, há uma determinação de reflexão entre mercado e produção, de modo que o aumento da massa salarial aumenta a demanda, que determina a oferta, determinando a produção e vice-versa.


Sobre o argumento do deputado Leonardo Siqueira, ou poderíamos chama-lo de John Weston burguês[1]. Se o operário inglês defendia a impossibilidade de uma elevação salarial permanente, e que por isto, a atividade sindical não deveria incorporar aumento salarial como pauta, ele partia de dois princípios, os quais o nosso John Weston burguês, deputado Leonardo Siqueira também parte, quais sejam:

 

l.a) que o volume da produção nacional é algo de fixo, uma quantidade ou grandeza constante, como diriam os matemáticos;

2.a) que o montante dos salários reais, isto é, dos salários medidos pelo volume de mercadorias que permitem adquirir, é também uma soma fixa, uma grandeza constante. (Marx, ano: 64)

 

Seguindo os mesmos pressupostos, de que o volume da produção nacional é fixo, ou seja, de que qualquer elevação da massa salarial é seguida de queda da massa de lucro e de que a massa salarial sempre é fixa.


Peguemos o exemplo do próprio Marx no texto supracitado, caso a produção nacional seja fixa;


Se tomo um determinado número, digamos 8, os limites absolutos deste algarismo não impedem que variem os limites relativos de seus componentes. Por exemplo: se o lucro fosse igual a 6 e os salários a 2, estes poderiam aumentar até 6 e o lucro baixar a 2, que o número resultante não deixaria por isso de ser 8 (Marx, idem: 64).

 

Como podemos observar, caso o volume da produção nacional seja fixo, a elevação salarial, de fato, é necessariamente rebaixamento da massa de lucros, se o volume total é 8, 2 em salários significa 6 em lucros e vice-versa. A segunda questão, sobre o volume determinado dos salários, ou seja, de que necessariamente tem que derivar uma queda da massa salarial, pois os “empregadores” pagarão menos, contratarão no trabalho informal e etc, parte do pressuposto de que a soma dos salários tem que ser fixa, que se temporariamente os salários aumentam, em seguida eles serão rebaixados. Isso não é uma lei natural econômica, mas fruto exatamente da contradição entre capital e trabalho, em que o capital continuamente tenta rebaixar os salários, caso a soma fosse fixa, não haveria porque os “empregadores” continuamente lutarem pela redução dos salários e dos direitos trabalhistas, a luta de classes já se expressa, sobretudo nesse fato.


Portanto, é evidente que mesmo que o volume da produção nacional fosse fixa, o argumento do deputado, não se sustentaria, pois não se trata de uma lei natural, trata-se, antes de tudo, de uma luta pela apropriação, de mais trabalho não-pago, explorado pelo capitalista e mais trabalho pago, mais salário para o trabalhador. E caso o volume fosse fixo, neste caso sim, teríamos uma relação direta em que a diminuição da massa de salários se torna diretamente aumento da massa de lucro e vice-versa. Mas, mesmo que ambas tenham essa relação necessária, o fato de o volume da produção nacional não ser fixo, altera as coisas.  


Pois, dado que vários setores aumentarão a quantidade da massa salarial – pensemos apenas nos mercados, farmácias, indústrias (principalmente a alimentícia) e bares e restaurantes que utilizam tal escala, para termos a dimensão do aumento da massa salarial – pois terão que contratar mais, faz com que para todo o restante, com a elevação da demanda advinda da massa salarial aumentada, aumente a escala de operação e de produção, consequentemente aumentando a massa de lucro dos setores envolvidos, ainda que proporcionalmente eles sejam reduzidos em relação a taxa de lucro da escala 6x1.


Diferente do que propaga o deputado, não apenas os capitalistas não perderiam a massa de lucro ao pagarem mais salários, como a aumentariam. Explico, por exemplo, se uma empresa emprega 5 funcionários pagando 2.000 reais trabalhando 6x1, ele paga 10.000 em salários. Vamos supor que o lucro mensal é de 30.000 já descontados todos os gastos em salários (incluídos impostos e etc). A massa de lucro são os 30.000, ou trabalho excedente, a massa total de capital é igual a 40.000 e o salário é igual a 10.000. Então, seja (p’=m/v+c.100) onde p’ é a taxa de lucro m =mais-valia/capital variável (salários) + capital constante (maquinas, prédios, matéria-prima, ...), a fórmula da taxa de lucro.


Temos que: m/v+c é 30.000/10.000 + 0 – o leitor mais atento notará que zerado o capital constante, temos, na realidade, diretamente a taxa de mais-valia, “como a proporção tempo de mais-trabalho/tempo de trabalho necessário determina a taxa da mais-valia” (Marx, 1983: 345), contudo, aqui é válido, porque aumento da produção não implica imediatamente aumento do capital constante, ou pelo menos, não de forma considerável para nosso exemplo, portanto, suponhamos que o capital constante permanece o mesmo, sem aumento da capacidade produtiva instalada, o que nos permite supor ele igual a zero – o resultado da conta é igual a 3, em porcentagem, 300%, o que significa que a taxa de lucro é igual a 300%. Essa é a taxa de lucro, 300%, em termos de massa de lucro, são 30.000.


Vamos supor agora 8 funcionários ganhando 2.000. O pago em salários seria igual a 16.000, supondo os mesmos 40.000, a massa de lucro do dono do bar cairia para 24.000, e a taxa de lucro cairia para 150%, ou seja, caso o volume da produção nacional fosse fixo, de fato, aumento da massa salarial significaria, imediatamente, queda da massa de lucros e da taxa de lucros.


Mas, essa não é a situação real, pois, justamente porque todas as empresas que utilizam escala 6x1 e 44 ou 40 horas semanais e que precisam de mais trabalhadores para manter a mesma produtividade e massa de trabalho devido ao limite de 36 horas semanais máximas de trabalho também estão pagando uma massa salarial maior, existe, portanto, uma massa maior de dinheiro convertida em capital variável, em salários, o que significa que desde bares, mercados, farmácias e etc. terão mais consumidores, o que implica em aumento da produção alimentícia, farmacêutica, e no fim das contas, com o aumento da demanda, mais produção e vendas.


Portanto, no nosso exemplo da empresa, ao invés dos 40.000 divididos entre salários e lucro, agora, suponhamos um aumento de 25% nas vendas, a massa total de capital subiu pra 50.000, divididos em 34.000 de lucros para o dono do bar e os 16.000 pagos em salários aos 8 funcionários com salário de 2.000.  


O que isso significa? Que a massa de lucro total do dono da empresa considerada aumentou, agora ele vai receber 34.000, antes recebia 30.000, e isso mesmo com um pagamento de mais salários e mesmo que a taxa de lucro dele tenha decaído.


Nesse novo exemplo, a massa de lucros (trabalho não-pago) é de 34.000/16.000 + 0, o que significa que a taxa de lucro real vai ser de 212,5% o que significa um decréscimo de 87,5% na taxa de lucro, contudo, a massa total de lucro cresceu, 34.000 contra os 30.000 anteriores.


E o leitor poderia perguntar, mas e a produtividade social do trabalho?


Ora, estamos trabalhando com a mesma produtividade social do trabalho, pois, a jornada de trabalho menor, mas com mais trabalhadores, permanecendo a mesma tecnologia empregada no processo de produção, mantêm a mesma produtividade ou a aumenta, o que significa aumento da massa de valor na produção e por consequência, aumento da massa do capital social total e do lucro como um todo, mas isso não vêm ao caso em nosso exemplo. Se atente o leitor, unicamente ao fato de que estamos considerando um aumento da produção mantendo-se inalteradas as condições e os fatores da produção, portanto, capital constante e produtividade social média do trabalho permanecendo iguais.


Sendo assim, o argumento do deputado, de que o empresário (capitalista) precisa diminuir salários para sobreviver é completamente falso.


Mas o leitor pode perguntar, o empresário não preferiria, então, colocar máquinas no lugar de trabalhadores, tal qual o nosso John Weston burguês disse?


Existem duas questões relacionadas aqui. A primeira é o fato de que, caso fosse imediatamente mais lucrativo a retirada do capital variável, a substituição de salários por maquinaria, por capital constante, os capitalistas de vários setores envolvidos já o teriam feito, pois os capitalistas já o fazem, cotidianamente, e só não o fazem quando as condições de tal troca não são possíveis imediatamente.


E eles fazem constantemente, porque no mercado, os capitais com maior capital constante, máquinas mais avançadas, são mais produtivos, pois aumentam a produtividade social do trabalho e se tornam mais lucrativos, tendo com isto, o que Marx chamou lucro extraordinário, mas isso não significa uma verdade imediatamente. E a segunda questão relacionada é o fato de que os capitalistas individuais estão limitados em dois sentidos na troca de pessoas por máquinas. O primeiro sentido é a própria limitação técnica da substituição, isto é, a tecnologia precisa estar avançada suficientemente para que seja possível implementar uma máquina ao invés de um trabalhador na função específica para a realização daquela atividade determinada, algo difícil para mercados, farmácias e bares, por exemplo. O segundo é que a limitação do ponto de vista do próprio montante de capital necessário para essa substituição, pois a massa de capital, isto é, o preço que o capitalista vai pagar na máquina pode ser, por vezes, proibitivo.


Para que o leitor entenda, a revolução técnica do processo produtivo sob a base do capital, se opera, sobretudo por isto


A produtividade particular do trabalho numa esfera particular ou num negócio em particular no interior dessa esfera interessa unicamente aos capitalistas que deles participam diretamente, na medida em que possibilita a essa esfera particular a obtenção de um lucro extraordinário com relação ao capital total ou ao capitalista individual um lucro extraordinário com relação a sua esfera. (Marx, 2017: 233)

 

Em suma, o capitalista particular, como o de nosso exemplo, conseguirá os lucros sobre o trabalho não-pago aos trabalhadores sob seu controle, seus empregados, e na venda de seus produtos, conseguirá obter parte do trabalho não-pago de outros capitalistas com quem concorre. Desse modo, é possível que ele tenha mais-valia adicional na concorrência.


Contudo, para nosso exemplo, pensemos nesse capitalista individual. Como vimos a massa de lucro dele vai se ampliar para 34.000 pagando uma massa salarial de 16.000 e um aumento de vendas de 25%, mantidas as mesmas condições da produtividade social do trabalho – sabemos que com redução de jornada, na realidade o que acontece é os capitalistas utilizarem todos os métodos de intensificação do processo de trabalho, o que significa aumento da massa de mais-valia e da taxa de lucro.


Suponhamos agora, que ao invés de contratar os 3 trabalhadores adicionais por 2.000 reais, ele gaste 50.000 em tecnologias para colocar no lugar dos trabalhadores, nesse caso, temos que p’= m/v+c.100. em que m=30.000, v = 10.000 e c = 50.000. O resultado é que a taxa de mais-valia despenca para 50%, com a massa de lucro permanecendo em 30.000, pois, lembremos, estamos supondo que o conjunto dos capitalistas vai agir da mesma forma.


Por isso, de fato, esse capitalista particular, caso faça isto, vai ter vantagem sobre o restante dos capitalistas da sua esfera, como foi dito por Marx, e pode vir a ter lucro extraordinário até que todos realizem a substituição dos trabalhadores sob seu comando por máquinas, contudo, esse mecanismo independe da redução da jornada de trabalho, é antes constitutivo da própria dinâmica da acumulação do capital e só será vantajoso para essa empresa enquanto o conjunto dos capitalistas da mesma esfera não substituírem seus trabalhadores por máquinas. Se isto ocorrer - e isto ocorre de forma contínua na sociedade burguesa, em que maior capacidade produtiva significa desemprego e não tempo livre - o que ocorre é que a taxa de lucro de todos os capitalistas se reduzem, em contraposição a taxa de 300% de lucro, uma taxa reduzida, é a lógica geral da queda tendencial da taxa de lucro, por isto, mesmo os lucros extraordinários de um ou uns capitalistas singulares será temporário, o que novamente, não torna a substituição dos trabalhadores por máquinas algo simples. No entanto, na medida em que isto constitui a própria dinâmica da acumulação capitalista, é como se o deputado estivesse ameaçando de morte alguém que está no meio da guerra com tiros passando em todas as direções.


E por fim, o trabalho informal é utilizado pelos capitalistas para aumentar a taxa de mais-lucro e a massa de lucro em todas as situações possíveis. Como veremos abaixo o que redução salarial implica.


No momento, vale fazermos um pequeno resumo, o que podemos concluir daqui?


1. O aumento da massa de salários só pode sair da relação com a massa de lucros, ou melhor, com a massa de trabalho excedente, contudo, isto não implica redução da massa de lucros, mas sim da taxa de lucro.


2. As lutas ditas "econômicas" em torno do salário são a manifestação da relação básica do antagonismo de classe existente nessa sociedade. Portanto, não pode ser surpresa que o presidente da associação de bares tente rotular a questão como "ideia estapafúrdia". Aumento de massa salarial envolve diretamente a taxa de lucros, como fica claro.


3. Se do ponto de vista da massa de lucros total pode haver aumento, pois massa de salário aumentada significa aumento do consumo, a longo prazo, mantidas as mesmas condições do capital constante, significa que todo aumento da produção é aumento baseado na taxa de lucros média, pensando apenas no nosso exemplo, é como se todo o aumento da massa de lucros totais mantivesse a mesma taxa de lucro, isto não é necessariamente verdadeiro, mas existem limitações técnicas que dificultam em alguma medida diminuir capital variável[2] em bares, restaurantes e mercados, por exemplo, ao menos enquanto o capital não conseguir tornar robôs com inteligência artificial práticos para atendimento, o que hoje parece muito distante. Diante disto, a recusa mais intensa em bares e restaurantes não assombra, pois aumento da escala da produção significa aumento de capital variável, mantendo uma taxa de lucro menor do que a existente, ainda que a massa de lucros aumente. Como pudemos ver no nosso exemplo, 300%, tornaram-se 212,5%, a nova taxa de lucro base para aumento da produção com contratação de trabalhadores adicionais, além dos 8 necessários já na escala 4x3.


4. Contudo, existe ainda uma possibilidade de "inflação”, qual seja, a comentada pelo Weston burguês. A possibilidade (provável) que os capitalistas tentem repassar os custos adicionais com salários para o consumidor via preço das suas mercadorias. Tentando manter a mesma taxa de lucros com uma maior massa de lucros.


Dessa forma, com aumento de preços, poderia aumentar o capital total, por exemplo, para 65.000, por exemplo, com 16.000 pagos em salários, o que significaria uma massa de lucro de 49.000, o que significa então 49.000/16.000 + 0 é igual a 306,25% da taxa de lucro, com uma massa de lucro de 49.000.


Nesse caso, o aumento da massa de salários terminaria por significar desvalorização do dinheiro pelo aumento dos preços.


Perceba o leitor que o capitalista irá querer aumentar sempre mais a taxa de lucro e a massa de lucro, ou seja, reduzir salário, aumentando a taxa de lucro, e aumentar a massa total de lucros com esse mesmo rebaixamento. Trata-se, portanto, de nada mais do que luta de classes.


O problema é que seria parcialmente ou inteiramente inútil essa elevação, pois os 49.000 que o capitalista conseguiu com aumento de preços, na medida em que todos os capitalistas aumentam igualmente seus preços, passam a valer menos, o que significa que o seu lucro nominal, na realidade, passa a representar um valor menor. Do ponto de vista do trabalhador isto significa depreciação das condições de vida, já que o salário de 2.000 passa a possuir um valor menor também.


Essa "inflação" não é o resultado espontâneo, "natural" da elevação da massa salarial, ao contrário, ela é fruto diretamente da ação dos diversos capitalistas em manter suas taxas de lucro, mesmo que sua massa de lucro esteja aumentando, portanto, não é uma reação de “autodefesa” do “coitado” empresariado brasileiro.


Logo, isso significa que a luta deve se direcionar tanto em favor da diminuição da jornada de trabalho e da abolição da escala 6x1, quanto, conquistando essa demanda, uma luta pelos preços, para que os capitalistas não queiram recuperar suas taxas de lucro através do aumento de preços.


5. E, fundamentalmente, manter a luta contra o arroxo salarial, pois todos, TODOS os capitalistas dos setores envolvidos, mas não apenas estes, tentarão em seguida rebaixar salários, isto é, a primeira medida será contratação de mais trabalhadores com salários menores, ao invés de 8 recebendo 2.000, como nosso exemplo, 3 novos recebendo salários mínimos e 5 recebendo 2.000 até ser vantajoso mandar embora para recontratar outros 5 pelo mínimo, o que, novamente, significaria aumento da massa de lucros e da taxa de lucros para o capitalista e decréscimo da massa de salário.


Neste caso, o que ocorreria, seria um pequeno acréscimo da massa total de salários, um pequeno ou nenhum acréscimo a massa total de lucros e uma taxa de mais-valia um pouco menor ou praticamente igual a hoje existente para os capitalistas. No exemplo do nosso capitalista, suponhamos salários de 1.500 para os 8 trabalhadores com 45.000 de capital total, aumento de 5.000 derivado do pequeno aumento da massa salarial total de todos os capitalistas, ou seja, aumento pequeno do consumo.


Salários corresponde então a 12.000, um acréscimo de 2.000, a massa de lucros é igual a 45.000 - 12.000, portanto, 33.000, o que significa que 33.000 é m e 12.000 é V. Portanto, 33.000/12.000+ 0 (C), que é igual a uma taxa de mais-valia de 275%, 25% menor do que antes, ainda que um pequeno acréscimo na massa de lucros tenha ocorrido, os 5.000.


Nesse cenário, percebe-se como os capitalistas podem tentar remediar o decréscimo da taxa de lucro através do arroxo salarial, o que, fique claro, é o que cada capitalista individual faz para aumentar sua taxa de lucro.


Este exemplo inteiro é para alertar ao leitor de que a luta não se esgota no primeiro momento, trata-se mesmo da questão FUNDAMENTAL para todos os capitalistas individuais, que reagirão dessa forma. Trata-se, sobretudo, da expressão mais crua da luta de classe, que se expressa na relação capital - trabalho desta forma, e se expressa, pois, apesar da mais-valia e da taxa de mais-valia, tal qual a taxa de lucro serem cruciais, elas não esgotam a relação capital - trabalho. Tema que não é para um texto desse gênero.


Importa salientar para o leitor, o fato de que, do ponto de vista do capital, é completamente falso que bares e restaurantes irão falir caso a escala 6x1 acabe, e para o conjunto da economia brasileira, é completamente falso que a jornada de 36 horas semanais vai destrui-la.


Como vimos, o aumento da massa salarial pode inclusive produzir um aumento da massa de lucro para os capitalistas, ainda que sua taxa de lucros decaia, motivo pelo qual, o arrocho salarial e o aumento de preços é o mecanismo que utilizam para tentar recuperá-la.


E agora o argumento mais imbecil e patético, o do deputado Maurício Marcon, de que a negociação de dias deveria ser entre “patrão” e “empregado”, citando que o pai dele morreria se não pudesse trabalhar 6 dias e tivesse 3 pra ficar em casa. O argumento do deputado parte do pressuposto do liberalismo de que como trabalhador e capitalista possuem o mesmo estatuto formal, isto é, são ambos detentores de mercadorias, o capitalista do capital, o trabalhador da sua força de trabalho, portanto, são livres para se confrontarem como meros possuidores de mercadorias tentando negociar o preço de forma igual.


O que está completamente fora de vista nesta equalização formal entre trabalhadores e capitalistas é justamente a propriedade privada dos meios fundamentais de produção, em que de um lado o próprio trabalho, a vaga de trabalho é objeto de concorrência entre trabalhadores, o que já deixa o trabalhador completamente desarmado na relação com o capitalista, quanto na medida em que as condições de produzir estão alheias, pertencem ao capitalista, as condições de sua reprodução física, de continuar existindo, de não morrer, estão dele separadas, o que por si só significa a subordinação do trabalho ao capital. São os meios de vida, comida, moradia, roupas o que só é acessível sob a forma salário, portanto, o trabalhador, cuja concorrência no mercado de trabalho é o meio de rebaixamento salarial, não possui nenhum poder na relação com o capital.


Portanto, não existe nenhuma igualdade real entre capitalistas e trabalhadores, ainda que no plano formal, jurídico, ambos apareçam como iguais sujeitos de direito, livres proprietários de mercadorias. O caráter ridículo da ideia de que se a vaga for ruim é só não aceita-la, se expressa sobretudo nesse fato, de que a não aceitação da vaga seria uma possibilidade real, vaga para a qual concorrem inúmeros trabalhadores no mercado de trabalho em permanente concorrência, e que portanto, em cenário algum significa certeza de outra vaga de trabalho, quando na realidade, significa desemprego, fome e miséria.


Tal é o antagonismo entre trabalho e capital, em que as condições da reprodução do indivíduo trabalhador estão separadas dele e que os meios de vida só são acessíveis se subordinando ao trabalho alienado enquanto propriedade do capital.   


Desse modo, ao conjunto da classe capitalista, a resposta deve e precisa ser do conjunto da classe trabalhadora.


Vale ressaltar que o LUCRO do capitalista É TRABALHO EXPLORADO, portanto, a redução da taxa de mais-valia, no nosso exemplo citado, é diretamente uma massa de trabalho não-pago que foi um pouco reduzida em relação ao trabalho pago na forma de salário.


E finalmente, o capital tentará, sempre, aumentar a taxa de lucro pela demissão de trabalhadores e sua substituição por máquinas, ainda que a escala de trabalho seja 7x7, pois, do ponto de vista da concorrência, da maior produtividade do trabalho e da apropriação do lucro extraordinário, essa é sua natureza última. Por isso, se a redução da jornada e o fim da escala 6x1 são fundamentais, não podem significar o fim da luta, "ao invés de um salário justo por uma jornada de trabalho justa, pela abolição do trabalho assalariado" (MARX). Os limites da reivindicação devem ser evidenciados, o arrocho salarial e o aumento dos preços serão utilizados pelos capitalistas no dia seguinte, caso se aprove a legislação, e mesmo com a aprovação da medida, os trabalhadores terão, "apenas os grilhões mais afrouxados" (MARX), pois o capital continuará a "sugar como vampiro trabalho vivo" (MARX), isto é, a exploração é sua mola propulsora sem a qual não vive e a qual deve ser destruída.


A redução e extinção da escala são mais que necessárias, mas a luta de classe precisa seguir até o fim, pela abolição do trabalho assalariado

 

***

 

Referências Bibliográficas

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013.

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Livro III. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2017.

MARX, Karl. Salário, preço e lucro. In Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidos. Rio de Janeiro: Abril Cultural, 1974.

 

[1] O operário inglês John Weston defendia no Conselho Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores a tese de que a elevação dos salários não pode melhorar a situação dos operários e que deve ser considerada prejudicial a atividade das tradeunions.


[2] Capital variável é chamado assim por Marx, porque ele é o único que produz valor novo. Corresponde no texto ao pago em salários. Enquanto capital constante, é determinado dessa forma, exatamente pelo fato de no processo de trabalho, o valor de uma máquina não se alterar, assim como do prédio, da matéria-prima e etc. São massas de valor que o trabalho unicamente transfere a uma mercadoria nova. Por exemplo, supondo a produção de calçados, 16 pares de calçados em 8 horas de trabalho, serão produzidos então 8 horas de valor cristalizados nos 16 pares, valor novo, produto do trabalho, da transformação de matérias primas (couro, energia elétrica, água e etc), com a maquinaria necessária mantendo a produtividade social média do trabalho, e prédio e etc. Perceba o leitor que o trabalhador produz 1 par de calçado a cada meia hora, então é meia hora de valor objetivado em cada par, valor novo, que antes não existia, ao mesmo tempo, o capital existente em máquinas, matéria prima etc., será apenas repassada para o calçado através do trabalho do trabalhador, verdadeiro criador da riqueza social. Assim, por exemplo, suponhamos que no couro necessário para um par, foram objetivados por um trabalho anterior, 20 minutos de trabalho, e que no uso da máquina, no tempo de 30 minutos, necessários para produzir um calçado, sejam repassados 40 minutos de trabalho objetivado anterior, de trabalho morto, para facilitar, de tempo de trabalho para o calçado. Então, a composição do calçado seria V+C= m, aqui m é mercadoria. Logo, a composição valor de um calçado seria 30+(40+20) = 90. Vemos aqui então que em 8 horas, e em 16 pares, a relação entre capital variável e capital constante é de 1/3, sendo 8 horas de capital variável objetivados em 16 pares e 16 horas de capital constante objetivados nos mesmos 16 pares. Contudo, suponhamos que o trabalhador produz o valor do seu salário na primeira hora, o que isso significa? Significa que das 8 horas que ele produziu, 7 são mais-valia, trabalho não-pago. E o leitor poderá pensar que o salário dele é igual a dois calçados, se isso é verdade considerando apenas o capital variável, não o é para a mercadoria real, lembremos que 1 calçado é igual 90 minutos, uma hora e meia de trabalho objetivado, desta forma, o salário do trabalhador não o permitiria comprar nem mesmo um calçado.

Commentaires


© Barravento

REVISTA BARRAVENTO

bottom of page