Sobre a revista Svoboda [A respeito de uma escrita popular]
- Igor Dias
- 4 de set.
- 2 min de leitura

Por V. I. Lênin
Nota do editor: Este breve texto foi escrito por Lênin no outono de 1901 e permaneceu inédito até sua publicação póstuma em 1936. Neste único e curto parágrafo, a diferença entre aquilo que é “popular” e aquilo que é “popularismo” traz à tona o profundo e ainda recorrente engano de que a comunicação com os trabalhadores pressupõe a subestimação de suas capacidades. Não se trata de oferecer respostas simples, mastigadas e fáceis de engolir, mas sim de ensinar ao “leitor pensante” a “seguir por conta própria” e instigá-lo a “mais e mais perguntas”. Mantivemos os grifos originais do autor em itálico.
Tradução e cotejamento de Pedro Badô.
A revistinha “Svoboda”[1] é absolutamente ruim. Seu autor – a revista dá a exata impressão de que foi escrita do começo ao fim por uma só pessoa – pretende fazer uma escrita popular “para trabalhadores”. Mas isso não é ser popular, é popularismo [популярничанье][2]. Não há nenhuma palavrinha simples, tudo é com maneirismo... Sem afetação, sem comparações “populares” e sem palavrinhas “do povo” – tal como “deles” [ихний][3] – o autor não consegue dizer uma só frase. E com esta linguagem monstruosa, mastigam – sem novos dados, sem novos exemplos, sem nenhuma reelaboração – ideias socialistas banais, deliberadamente vulgarizadas. A popularização, diríamos ao autor, está muito longe da vulgarização, do popularismo. Um escritor popular leva o leitor a um pensamento profundo, a um ensinamento profundo, com base nos dados mais simples e bem conhecidos, apontando, com a ajuda de raciocínios simples ou exemplos bem escolhidos, as principais conclusões desses dados, instigando o leitor pensante a mais e mais perguntas. O escritor popular não pressupõe um leitor que não pensa, não quer ou não sabe pensar; ao contrário, ele vê no leitor ainda pouco desenvolvido a intenção séria de usar a cabeça, e o ajuda a realizar esse trabalho sério e difícil, guiando-o nos primeiros passos e ensinando-o a seguir por conta própria. O escritor vulgar pressupõe um leitor que não pensa e é incapaz de pensar; ele não o conduz aos fundamentos de uma ciência séria, mas, numa forma monstruosamente simplificada, temperada com piadinhas e ditados, lhe oferece já “prontas” todas as conclusões de ensinamentos bem conhecidos, de modo que o leitor não precisa nem mastigar, basta engolir aquela papinha.
Notas:
[1] A Svoboda – em russo, “Liberdade” – foi uma revista editada na Suíça em 1901 e 1902 pelo grupo homônimo, fundado em maio de 1901 e descrito como um grupo “socialista revolucionário”. A revista teve duas edições. Em suas publicações, o Svoboda defendia princípios do “economicismo” e do terrorismo, além de apoiar grupos anti-Iskra na Rússia. A revista deixou de existir em 1903. (Nota do tradutor)
[2] A palavra “популярничанье” não tem tradução direta, mas é um diminutivo pejorativo de “popularização” ou “tentativa de parecer popular”. (Nota do tradutor)
[3] A palavra “ихний” é uma forma comum no russo coloquial equivalente ao nosso pronome “deles”, que no russo formal seria “их”. Não encontramos uma forma compreensível de tradução para o leitor lusófono, motivo pelo qual mantivemos o texto original, o que, evidentemente, prejudica o teor satírico pretendido por Lênin. (Nota do tradutor)




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